segunda-feira, 12 de abril de 2010
Cães levantam astral de idosos em asilos
Os cães Aron, Snipper (pastores-alemães), Chucky, Átila (golden retriever), Domec (retriver/labrador) e Bisteca (border collie) são responsáveis por uma novidade no dia a dia de idosos em casas de repouso e de alunos especiais em escolas do Grande ABC. Os bichos realizam trabalho de pet-terapia - tratamento em que a interação entre pessoas e animais beneficia a saúde dos pacientes, visando qualidade de vida. O Diário foi em duas instituições da região e acompanhou o trabalho.
Em São Caetano, a promotora Maria Izabel do Amaral Sampaio Castro entrou com pedido na Promotoria do Idoso para que os 15 asilos da cidade pudessem receber os cães da Guarda Civil Municipal para a pet-terapia. As visitas foram agendadas há dois meses e, até a semana passada, 11 insituições receberam a visita dos bichos.
"Eles (os guardas-civis e seus cachorros) estão fazendo um excelente trabalho e espero em breve aplicar esse projeto em outras instituições", afirma a promotora. Na visita, os cães realizam apresentação de adestramento durante 30 minutos. Depois, ficam mais 30 à disposição para interagir com as pessoas. A Guarda Civil Municipal informa que os cães terapeutas são animais saudáveis, que, além de vacinados e treinados para a função, passam por avaliação física e psicológica. Os cachorros escolhidos são os mais dóceis, pacientes e disciplinados.
Na Casa de Repouso Raio de Sol, no bairro Santa Maria, a pet-terapia teve início neste ano e já é a atividade preferida dos 23 idosos que moram na instituição. Segundo o gerente Celso Romero, o objetivo é levar uma forma de entretenimento diferenciada. "Os cães passam tranquilidade para os idosos. Os pacientes ficam mais calmos e sociáveis depois da terapia", pondera.
Rosa de Jesus Monteiro, 77 anos, e Lia da Costa, 83, partilham da mesma opinião e se dizem contentes com a nova atividade. "É um carinho muito gostoso que eu sinto quando os cães estão aqui", comenta Rosa. "Sem dúvida alguma é melhor que ficar vendo televisão. Seria melhor ainda se essa atividade pudesse ser toda semana", aponta Lia.
São Bernardo - Já em São Bernardo, na unidade do Riacho Grande da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais), o trabalho de pet-terapia já está no segundo ano e, atualmente, 60 alunos participam das atividades com os cães.
Para Simone Senna, gerente da Avape e terapeuta ocupacional, a atividade com os cães aumenta a autoestima dos pacientes. "É um programa de desenvolvimento social e pessoal. A terapia é fundamental para auxiliar nos tratamentos dos nossos alunos", afirma.
Portador de deficiência intelectual leve, Cristiano Gomes Costa, 22, conta que quando começou a participar da terapia não gostava muito, mas aos poucos ele foi ficando amigo dos cães e agora não perde uma aula com os animais. "Antes eu não gostava muito dos cães, mas depois que fui participando das atividades acabei gostando e agora toda sexta-feira participo da terapia."
Medicina do ABC estuda implementar tratamento
Em Santo André, há projeto para implantação da pet-terapia em duas unidades de Saúde. O setor de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC estuda implementar o tratamento, que depois poderá ser expandido para a Clínica Pediátrica do Hospital Estadual Mário Covas. A informação é do médico Jairo Cartum, coordenador do Ambulatório de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC.
Ele disse que, "antes de qualquer coisa", uma preparação das famílias dos pacientes é necessária. "É preciso explicar para as mães que os cães são treinados e especializados para ajudar nos tratamentos", destacou.
Segundo o Cartum, a negociação com uma ONG de São Paulo já está bem avançada para parceria neste sentido. O médico espera que, depois de realizado na Faculdade de Medicina do ABC , o tratamento possa ser estendido à Clínica Pediátrica do Hospital Estadual Mário Covas. "O objetivo é implantar o mais breve possível a pet-terapia nas instituições."
Especialistas contam que autoestima melhora
A pet-terapia é usada como alternativa à televisão ligada na sala das instituições de assistência a idosos. Psicólogos, coordenadores e fisioterapeutas consideram o tratamento ideal para levar alegria e descontração aos pacientes.
"O cão passa uma energia muito positiva. As pessoas que normalmente passam por essa terapia acabam vendo nos animais que vale a pena viver para se divertir com uma simples brincadeira", contou a fisioterapeuta Ligia Taets.
Por conta do impacto direto na autoestima dos pacientes a pet-terapia foi implantada nas unidades de São Bernardo da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais), no Centro da cidade e no Riacho Grande. O trabalho é realizado há dois anos.
Para o adestrador da Avape Evandro Baptista, a pet-terapia ajuda os estudantes a melhorar sua autoconsciência corporal e diminui a agressividade. "O cão aumenta a motivação das pessoas e trabalha a questão emocional dos alunos."
De acordo com o psicólogo Klaiton Giordini, além do humor e da disposição dos pacientes, a pet-terapia faz com que tratamentos médicos sejam menos dolorosos. "A prática só tem pontos positivos", afirmou.
Segundo o coordenador do ambulatório de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC, Jairo Cartum, há benefício triplo ao se utilizar esse tipo de terapia com os pacientes.
"Primeiro é a adesão maior ao tratamento (psicológico a que os pacientes de câncer são submetidos). Segundo, o ambiente (da unidade de Saúde) fica bem mais leve. E, em terceiro, os pacientes passam a responder melhor às medicações impostas para combater o câncer", destaca.
Cartum disse ainda que os cães não oferecem perigo algum. "Os animais são responsáveis por fazer avanços nos tratamentos."
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